quinta-feira, outubro 07, 2010

terça-feira, agosto 03, 2010

Estou à beira de um ataque de nervos...

Para não variar... estamos no dia 3 de Agosto e ainda não consigo sequer saber quando são os concursos...cooooooooooooomo éeeeeee pooooooooooossível!!!! Continuam a brincar com a vida dos Professores... 

domingo, julho 11, 2010

Cara de Anjo Mau




Os teus olhos são cor de pólvora e o teu cabelo é o rastilho

O teu modo de andar é uma forma eficaz de atrair sarilho

A tua silhueta é um mistério da criação

E sobretudo tens cara de anjo mau


Cara de anjo mau, tu deitas tudo a perder

Basta um olhar teu e o chão começa a ceder

Cara de anjo mau, contigo é fácil cair

Quem te ensinou a ser sempre a última a rir?


Que posso eu fazer ao ver-te acenar a ferida universal?

Que posso eu desejar ao avistar tão delicioso mal?

Que posso eu parecer quando me sinto fora de mim?

Que posso eu tentar senão ir até ao fim?


Cara de anjo mau, tu deitas tudo a perder

Basta um olhar teu e o chão começa a ceder

Cara de anjo mau, contigo é fácil cair

Quem te ensinou a ser sempre a última a rir?


Por ti mandava arranjar os dentes e comprava um colchão


Por ti mandava embora o gato por quem tenho tanta afeição


Por ti deixava de meter o dedo no meu nariz


Por ti eu abandonava o meu País


Cara de anjo mau, tu deitas tudo a perder

Basta um olhar teu e o chão começa a ceder

Cara de anjo mau, contigo é fácil cair

Quem te ensinou a ser sempre a última a rir?

Romaria




E de sonho e de pó


O destino de um só

feito eu perdido em pensamento

sobre o meu cavalo

É de laço e de nó

De gibeira ou jiló

Dessa vida cumprida a sol



Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

e funda o trem da minha vida

Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

e funda o trem da minha vida



O meu pai foi peão

Minha mãe solidão

meus irmãos perderam-se na vida

a custa de aventuras

Descasei, joguei

investi, desisti

Se há sorte eu não sei nunca vi.



Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

e funda o trem da minha vida

Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

e funda o trem da minha vida



Me disseram porém

que eu viesse aqui

pra pedir de romaria e prece

Paz nos desaventos

Como eu não sei rezar

Só queria mostrar

Meu olhar, meu olhar, meu olhar



Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

e funda o trem da minha vida

Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

e funda o trem da minha vida

Calçada de Carriche



Gustav Klint ( é despropositada a sua ligação ao texto de António Gedeão...é apenas uma visão totalmente diferente da mulher... achei interessante contrapor as perspectivas)



Luísa sobe, sobe a calçada,

sobe e não pode que vai cansada.



Sobe, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.



Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.



Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.



Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.



Anda, Luísa. Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.



Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.



Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.



Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.



Anda, Luísa. Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.



Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa, larga que larga,

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa, larga que larga,



Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.



Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada,

Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.



(António Gedeão)

sábado, julho 03, 2010


PS:... ( sem conotações politicas) ZECA AFONSO

Vampiros

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei


Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada


Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

domingo, junho 20, 2010

Miauuuuuuuuu

(…) – Dentro de cada um há o seu escuro. e nesse escuro só mora quem lá inventamos. Agora me entende?
- Não estou claro, Dona Gata.
- Não é você que mete medo. Somos nós que enchemos o escuro com nossos medos.


Mia Couto, O gato e o escuro, um livro para crianças que não me canso de ler...

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

É melhor aprender com a experiência dos outros...

Niemöller é o autor de uma das mais célebres frases sobre o significado do Nazismo na Alemanha:
"Quando os nazis levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Érase una vez

un lobito bueno
al que maltrataban
todos los corderos.
Y había también
un príncipe malo,
una bruja hermosa
y un pirata honrado.
Todas estas cosas
había una vez.
Cuando yo soñaba
un mundo al revés.
Juan Agustín Goytisolo

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Jacques Brel Ne me quitte pas

Para quem fica à espera que as coisas aconteçam...

"Uma nêspera
Estava na cama
Deitada
Muito calada
A ver
O que acontecia
Chegou uma Velha
E disse:
-Olha uma nêspera!
E zás comeu-a
É o que acontece
Às nêsperas
Que ficam deitadas
Caladas
A esperar
O que acontece”
(Mário Henrique Leiria)

A Flor mais grande do mundo

"E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?" José Saramago
Uma pequena animação de Juan Pablo Etcheverry baseada na obra de José Saramago, com locução do próprio autor.

domingo, fevereiro 14, 2010

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO


A pedra de Itabira

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida
é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas,
sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, janeiro 30, 2010

CASO DO VESTIDO



Clica aqui e lê este poema de Drummond de Andrade
José




E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, Você?

Você que é sem nome,

que zomba dos outros,

Você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?



Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?



E agora, José?

sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio, - e agora?



Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?



Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse,

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse....

Mas você não morre,

você é duro, José!



Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja do galope,

você marcha, José!

José, para onde?



Carlos Drummond de Andrade

domingo, janeiro 24, 2010

Fazes-me Falta




A Festa do Silêncio


Escuto na palavra a festa do silêncio.

Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.

As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.

Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.

É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.



Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,

o ar prolonga. A brancura é o caminho.

Surpresa e não surpresa: a simples respiração.

Relações, variações, nada mais. Nada se cria.

Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.



Nada é inacessível no silêncio ou no poema.

É aqui a abóbada transparente, o vento principia.

No centro do dia há uma fonte de água clara.

Se digo árvore a árvore em mim respira.

Vivo na delícia nua da inocência aberta.



António Ramos Rosa, in "Volante Verde"