domingo, fevereiro 14, 2010

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO


A pedra de Itabira

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida
é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas,
sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

(Carlos Drummond de Andrade)

1 comentário:

deep disse...

Olá, menina! Como estiveste tanto tempo sem actualizar este espaço, acabei por me esquecer de vir aqui.
Hoje vim e ainda bem que o fiz. O poema é muito bonito... triste, mas bonito.

Beijos